Como descobrir minhas neurodivergências mudou minha vida e minha carreira
Por muito tempo, algo em mim parecia "não se encaixar". Desde a infância, eu sentia que via o mundo de uma forma diferente. Enquanto as outras crianças pareciam se ajustar facilmente às regras e expectativas, eu me esforçava para encontrar meu lugar. Esse sentimento de desconexão me acompanhou por muitos anos.
Eu cresci ouvindo comentários como: "Você é tão distraída", "precisa se organizar melhor" e "você leva tudo ao pé da letra". Essas frases, repetidas tantas vezes, começaram a moldar a forma como eu me via: alguém que precisava ser consertada. Para me adaptar, investi uma quantidade enorme de energia emocional, tentando atender às expectativas e me encaixar em moldes que simplesmente não faziam sentido para mim.
Para tirar essa dúvida que pesava sobre mim por cerca de dois anos, decidi buscar uma avaliação neuropsicológica. Isso foi um ato de autocuidado e o diagnóstico foi libertador. Descobrir tardiamente que sou autista e tenho TDAH mudou não apenas a forma como me vejo, mas também como me trato. Percebi que todas aquelas críticas que internalizei como falhas pessoais não eram fraquezas, mas características de um cérebro neurodivergente. Passei a entender minha mente com mais compaixão e a criar estratégias que respeitam minhas necessidades.
Hoje, vejo minha neurodivergência não como um defeito ou falha de caráter. Claro, existem desafios, mas reconhecer e acolher minha forma única de ser me ajudou a superar a culpa e a sensação de "não ser suficiente". Esse processo também transformou a forma como exerço minha profissão.
Como psicóloga, essa experiência me deu mais empatia e compreensão para ajudar pessoas que também sentem que "não se encaixam". Entender minha própria mente me ensinou a olhar para as experiências dos outros com mais sensibilidade e respeito. Por isso também, iniciei em 2024 a pós-graduação em Neuropsicologia. Meu trabalho agora é inspirado pela ideia de que a neurodiversidade precisa ser compreendida e melhor aceita em todos os lugares que ocupamos.
Se você sente que o mundo não foi feito para você, saiba que é possível encontrar respostas e acolhimento. Sua forma de ser é válida e merece ser respeitada. Essa é a mensagem que espero passar com meu trabalho e que me motiva todos os dias.
Adriana Leopold
psicóloga
CRP 06/96436