Abril: Mês de Conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista
15 abril, 2025
O mês de abril é marcado mundialmente como o período dedicado à conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Mais do que uma data simbólica, é uma oportunidade para ampliarmos o diálogo sobre uma condição neurológica que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.
Essa iniciativa busca iluminar debates, combater preconceitos e promover a inclusão de pessoas autistas em todos os espaços da sociedade. É essencial discutir as nuances do autismo, especialmente aquelas que ainda são negligenciadas — como a realidade de pessoas designadas mulher ao nascer, das minorias e das pessoas adultas diagnosticadas tardiamente.
Neste texto, exploro as nuances essenciais para entender o autismo além dos estereótipos, discutindo as ideias de autonomia, diversidade e desafios reais enfrentados por pessoas autistas.
O que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA)?
O Transtorno do Espectro Autista é uma condição de neurodesenvolvimento caracterizada por diferenças persistentes na comunicação e interação social, além de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Não é uma doença, mas sim uma forma única de perceber e experienciar o mundo. Os primeiros sinais costumam aparecer na infância, mas o diagnóstico pode ocorrer em qualquer fase da vida, especialmente quando profissionais estão atentos à diversidade de apresentações do autismo.
"O TEA tende a se apresentar de maneira complexa, ampla e heterogênea. Até mesmo a palavra espectro torna-se insuficiente para descrever com clareza toda a sua singularidade. Ele gera prejuízos significativos que afetam o desenvolvimento pessoal, social, pedagógico e profissional. Ele pode dificultar a aquisição de uma série de habilidades inatas ao ser humano, seja em menor ou maior grau. Isso faz que a pessoa desenvolva comportamentos incomuns, atípicos, e sofra por não conseguir, por exemplo, interagir com espontaneidade." (Castro, 2024, p.16 - itálico do autor)
O autismo, portanto, não é uma doença, mas uma forma diversa de experienciar o mundo. Cada pessoa no espectro tem habilidades, desafios e trajetórias únicas.
Por que falamos sobre isso em abril?
O dia 2 de abril foi escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em assembleia geral no ano de 2007. Desse evento foi emitida a resolução 62/139 World Autism Awareness Day que designou, a partir de 2008, esta data como o "Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo". A Assembleia Geral expressa profunda preocupação com a prevalência e alta taxa de autismo em crianças em todas as regiões do mundo e os consequentes desafios de desenvolvimento para cuidados de saúde a longo prazo, educação, formação e programas de intervenção realizados por governos, organizações não governamentais e o setor privado, bem como o seu enorme impacto nas crianças, suas famílias, comunidades e sociedades. (ONU, 2007)
A resolução pontua que o diagnóstico precoce e a investigação e intervenções adequadas são vitais para o crescimento e desenvolvimento do indivíduo. Além disso, o documento encoraja os membros da ONU a tomar medidas de conscientização a respeito das pessoas autistas em todo o mundo. (Wikipedia).
É por isso que desde 2008, o dia 02 de abril é destaque nas mídias para conscientizar a sociedade sobre os direitos, as necessidades das pessoas autistas.
Como apoiar a comunidade autista?
1. Amplifique vozes autistas e eduque-se sobre interseccionalidade
Ouça as pessoas autistas: o lema da comunidade de autodefesa autista é "nada sobre nós, sem nós". Isso quer dizer que qualquer discussão relacionada ao autismo precisa incluir e centralizar as vozes e perspectivas dos autistas. Isso significa que as pesquisas sobre quais suportes "ajudam" as pessoas autistas precisam ser conduzidas por pesquisadores também autistas, se concentrando em resultados efetivos para o bem-estar da pessoas autista e não pautada na conveniência dos neurotípicos.
É preciso ouvir as pessoas autistas com diferentes experiências, com diferentes necessidades de suporte, de diferentes gêneros e raça.
Uma única pessoa não representa a comunidade autista como um todo!
2. Conheça narrativas autistas
Compre livros de autores autistas: Há inúmeros livros sobre autismo escritos por pessoas autistas. Muitas dessas pessoas escreveram sobre suas experiências e você pode aprender diretamente com uma pessoa autista e, ao mesmo tempo, apoiá-la comprando seu livro.
Deixo aqui algumas dicas:
A Diferença Invisível (quadrinhos). Escrito por Julie Dachez, ilustrações de Mademoiselle Caroline. Editora Nemo, 2017
Autismo sem máscara: Uma jornada de autodescoverta e autoaceitação. Escrito por Devon Price. Editora nVersos, 2024
Minha Primavera, Seus Devaneios. Uma antologia de contos autistas. Vários autores. Editora Projeto Autista Contista, 2024
O Cérebro Autista. Escrito por Temple Grandin. Editor Record, 2015
3. Respeite as individualidades
Apoie sem tentar "consertar": As pessoas autistas precisam de um suporte e, por isso, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é reconhecidamente uma deficiência conforme a Lei Federal N° 12.764 (27/12/2012). Contudo, de forma alguma, deve-se considerar uma pessoa autista como alguém que é "quebrado" e precisa ser consertado.
Ao expressar uma necessidade, dificuldade ou limitação, a pessoa autista precisa ser ouvida, acolhida e ter acesso aos seus direitos.
Stimming (movimentos repetitivos) não são "errados" — são formas de autorregulação.
4. Combata mitos
Se junte em defesa dos direitos dos autistas: Você pode apoiar a comunidade autista, mas deve sempre se lembrar que o protagonismo é das pessoas autistas! Seu apoio, porém, pode ajudar a combater a desinformação e alertar as outras pessoas quando vir uma situação que envolve capacitismo.
Vacinas, "falta de afeto" e práticas pseudocientíficas não causam autismo. A ciência aponta uma combinação complexa de fatores genéticos e ambientais.
Conscientização é só o começo!
A conscientização não pode se limitar a um mês. Diariamente, podemos:
- Desconstruir estereótipos (como a ideia de que autistas não têm empatia).
- Combater a desinformação (como o mito de que vacinas causam autismo).
- Garantir direitos (acesso à educação, saúde e trabalho adaptados).
Incentive iniciativas de arte, emprego e lazer acessíveis a autistas.
Que este mês inspire mudanças duradouras — porque a inclusão não pode ser limitada a um calendário!
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Referências
BRASIL. Lei n° 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista ; e altera o § 3° do art. 98 da Lei n° 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm. Acesso em 05 abril de 2025.
CASTRO, Thiago. O começo de tudo. In.: CASTRO, T.; PEREIRA. L.(orgs.) Espectro autista feminino [livro eletrônico]. São Paulo, SP: Literare Books International, 2024. (p. 13-21)
MARSHALL, Amy. 4 Ways to Show Up for Autistics This Autism Acceptance Month - Tips from an autistic psychologist. Blog. Psychology Today. 4 abril 2025. Disponível em: https://www.psychologytoday.com/us/blog/neurodiversity-affirming-therapy/202504/4-ways-to-show-up-for-autistics-this-autism-acceptance Acesso em 05 abr 2025.
UNITED NATIONS. 62/139 World Autism Awareness Day. Resolution adopted by the General Assempbly on 18 December 2007. Disponível em: https://documents.un.org/doc/undoc/gen/n07/472/11/pdf/n0747211.pdf?OpenElement Acesso em 5 abr 2025.